quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O PENSAMENTO

Escutei o seguinte diálogo entre meu filho e seu pai.

- Como é que eu consigo ver pensando? Eu penso num círculo e vejo ele mas sei que o círculo não está ali.

- Isto é porque você é humano e capaz de pensar, de imaginar o círculo, disse o pai.

Confesso que achei aquela conversa bem interessante, pela pergunta de uma criança a seu pai sobre uma das funções mais complexas da vida mental, o pensamento.

Como pensamos? Isto ver intrigando os cientistas há muitos anos. Hoje sabemos que o cérebro é ativo e que para desenvolver funções de alta complexidade, como o pensamento, sua atividade é requisitada como um todo, várias áreas funcionando em concerto como numa orquestra, cada qual realizando sua função de forma a produzir um pensamento harmônico e eficaz.

Sabemos também que os processos mentais superiores se formam e ocorrem com base na atividade da fala, sendo esta função o que permite a existência do processo de consciência humana.

Para o eminente fisiólogo russo Luria, o cérebro possui três sistemas funcionais que permitem que esta função em concerto se realize, são eles:

a) Um sistema funcional que executa a ativação tanto difusa e generalizada do cérebro quanto a ativação específica e pontual para realizar uma tarefa específica e que envolve desde as estruturas mais antiga do tronco cerebral quanto as estruturas mais recentes da evolução – estruturas estas especificamente humanas como os lobos anteriores do córtex cerebral;

b) Um outro sistema funcional que lida com a recepção, análise e armazenamento dos estímulos, que nos permite perceber o mundo a nossa volta, passo essencial para podermos decidir o que fazer com o que está acontecendo;

c) Um terceiro sistema funcional que lida com a programação, a regulação e com a verificação da atividade mental, inteiramente estruturado pela linguagem.

Todos estes sistemas entram em funcionamento, tendo como base a fala humana como um meio especial de comunicação que usa a linguagem para a transmissão das informação. A fala, baseada na palavra e na frase usa estas facilidades historica e dramaticamente formadas com um método de análise e generalização das informações recebidas e também como um método de formular decisões e tirar conclusões, sendo a base do processo do pensamento.

Um outro pesquisador soviético, Vigotskii, demonstrou que o processo de análise e generalização que constitui a base do pensamento humano se desenvolve na infância, tendo como início a análise direta das impressões que a criança recebe, depois se transforma em pistas concretas de atividade, para posteriormente se tornar uma categoria abstrata e generalizada, organizadora da atividade psicológica humana.

O pensamento surge quando a pessoa tem um motivo apropriado que torna a solução urgente e para a qual ela não possui uma solução já pronta.

O próximo passo no processo do pensamento é refrear uma resposta impulsiva e investigar detalhadamente as condições do problema à sua frente, passo essencial para que o ato intelectual possa ocorrer.

Depois, ele precisa selecionar uma alternativa possível de resolução com a criação de um plano geral para resolução de seu desafio, sendo esta fase de estratégia geral do pensamento.

O quarto passo é a tática que consiste na escolha dos métodos apropriados de resolução do problema, como o uso de esquemas lingüísticos, numéricos, lógicos, motores etc. adequados e já desenvolvidos na história social do homem. Este passo é a base do ato mental, um processo interno e específico de cada pessoa e é o que tanto se aprende na escola.

O estágio final não é simplesmente a descoberta da resposta, mas a comparação dos resultados obtidos com as condições originais da tarefa. Se tudo estiver de acordo, a tarefa do pensamento foi realizada com êxito. Senão, o processo se reinicia até que a solução adequada seja encontrada.

Muitas regiões cerebrais participam da grandiosidade desta tarefa, por isto o cérebro é solicitado como um todo a participar. Por exemplo, quando a pessoa está anestesiada suas funções mais simples, como respirar, são realizadas mas funções mentais complexas que requerem o cérebro todo estão prejudicadas. Mas não podemos deixar de enfatizar que as regiões posteriores do córtex humano são responsáveis pelas condições operantes (a memória dos esquemas adequados e já desenvolvidos) e as regiões anteriores do córtex (os famosos lobos frontais) constituem o aparelho essencial para a organização da atividade intelectual como um todo, incluindo o desejo de solucionar o problema e as programação do ato intelectual.



Tânia Mara Alves Prates

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