segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Maimonides

Maimônides: O Rambam
"De Moshê a Moshê, nunca houve alguém como Moshê."


1135-1204 (4895-4965). No decorrer da história, houve alguns pensadores cuja influência sobre as gerações que os sucederam continua evidente até os dias de hoje. Rabi Moshê ben Maimon (Maimônides) ou simplesmente Rambam como é mais conhecido, foi uma destas figuras.



Maimônides nasceu em 1135, na cidade de Córdoba, na Espanha, então sob domínio muçulmano. A cidade era um grande centro cultural, onde muçulmanos, judeus e cristãos conviviam e participavam ativamente da vida pública. Em 1148, no entanto, foi tomada pelos Almohads, que pregavam a restauração da fé pura Islâmica. Os judeus que não se converteram foram expulsos.



Rabi Maimon, pai de Maimônides e líder da comunidade judaica de Córdoba, levou sua família de cidade em cidade no sul da Espanha durante a próxima década, à medida que os Almorávidas gradualmente varriam o país. Os comentários de Maimônides sobre os dois Talmud, o de Jerusalém e o da Babilônia, bem como seus primeiros tratados, foram compostos durante aqueles anos de perseguição. Em 1159 chegaram a Fez, Marrocos, onde permaneceram por cinco anos.



Maimônides estudou medicina e Torá durante este período, onde também compilou a maior parte de seu trabalho para o comentário da Mishná. Trabalhando às vezes sob condições difíceis, ele era com freqüência forçado a trabalhar de memória, condensando e esclarecendo as longas explicações talmúdicas da Mishná, sem ter o texto à sua frente.



Em 1164, a perseguição religiosa forçou a família a sair também de Fez. Após passarem pela Terra Santa, Rabi Maimon e sua família chegaram a Fostad, no Egito (antigo Cairo) em 1166, o ano do falecimento de Rabi Maimon. Durante os cinco anos que se seguiram, a família foi sustentada pelo irmão de Maimônides, David, permitindo que Maimônides começasse a trabalhar em sua obra Mishnê Torá. Em 1171, no entanto, David morreu num naufrágio, e Maimônides passou a exercer a medicina como forma de sustentar a família. Foi nesta conjuntura que ele deu início àquilo que mais tarde se tornaria uma carreira de sucesso como médico, chegando a servir como médico pessoal do Grande Vizir Alfadhil e do Sultão Saladin. Por volta de 1177, as obras eruditas de Maimônides tinham se tornado tão respeitadas que foi convidado a ser Rabino Chefe do Cairo, uma comunidade judaica grande e influente. Apesar dessas responsabilidades, ele completou a Mishnê Torá logo depois e, dez anos mais tarde, seu Guia para os Perplexos.Maimônides faleceu em 1204, em Fostat, e foi enterrado em Tiberíades, Israel.

Datas e Eventos

1135 (4895 após a criação do Mundo) – 14 de Nissan, nasce Moshê ben Maimon em Córdova, Espanha.
1148- (4908) – Os almohávidas, seita muçulmana fanática da África do Norte, captura Córdova. A família Maimon foge e começa um período de onze anos de andanças pelo sul da Espanha e norte da África.
1158/61 (4918-4921) – O Rambam começa a escrever o seu "Comentário Sobre a Mishná".
1159 (4919) – A família Maimon se estabelece em Fez, capital do Marrocos.
1162/63 (4922-4923) – O Rambam compõe e propaga a "Igueret Hashmad" (Epístola sobre a Apostasia).
1164-65 (4924/4925) – A família Maimon deixa Fez e percorre a Terra Santa.
1165-68 (4925-4928) – O Rambam completa seu "Comentário sobre a Mishná".
1166 (4926) – A família Maimon deixa a Terra Santa e se estabelece em Alexandria, no Egito
1166 (4926) – Falece Rabi Maimon, pai do Rambam.
1167/70 (4927-4930) – O Rambam começa a escrever o "Sefer HaMitsvot" e o "Mishnê Torá".
1169 (4929) – O Rambam escreve e envia a "Igueret Teiman" aos judeus do Iêmen.
1171 (4931) – Rabi David, irmão do Rambam, morre afogado num naufrágio.
1171 (4931) – O Rambam se estabelece em Fostad, Egito, onde vive pelo resto da sua vida.
1171/74 (4931-4934) – Fim do califado de Fatimide. Saladino torna-se Rei do Egito.
1177 (4937) – O Rambam é nomeado Rabino-Mor pela comunidade judaica do Cairo.
1177/80 (4037-4940) – O Rambam termina de escrever o Mishnê Torá.
1186 (4946) – 28 de Sivan, nasce o filho do Rambam, Rabi Avraham.
1186/90 (4946-4950) – O Rambam termina o "More Nevuchim" – o "Guia dos Perplexos".
13 de dezembro de 1204 – 20 de Tevêt de 4965 – O Rambam falece e é sepultado na Cidade Santa de Tiberíades, em Israel
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Mishnê Torá

Por volta do século XII da era comum, cerca de 700 anos depois que o Talmud da Babilônia tinha recebido seu formato final, havia se desenvolvido uma vasta população de judeus para quem seus argumentos, muitas vezes sutis, eram inacessíveis. Sem as explicações talmúdicas, era difícil entender corretamente a linguagem condensada da Mishná. Rabi Yitschakl Alfasi (o Rif) deu o primeiro passo para tornar as explicações mais acessíveis, selecionando opiniões autorais e a passagem legal relevante do Talmud, dispensando as discussões mais elaboradas e as seções de casos. Em seu formato final, a compilação do Rif foi uma tremenda realização – poucos eruditos tinham o conhecimento e a percepção necessária para estudar todo o material talmúdico para chegar às leis definitivas. Seguindo a mesma organização do Talmud – com suas freqüentes, às vezes abruptas mudanças de assunto – no entanto, a obra do Rif não era de fácil consulta àqueles que não eram bem versados no Talmud.

Maimônides procurou remediar esta deficiência compondo um código organizado por tópicos. Mishnê Torá, é composta de 14 livros que contêm 982 capítulos e milhares de leis. Dividiu sua obra em catorze livros, com cada livro dividido em capítulos e cada capítulo desmembrado em discussões de leis individuais. Esforçou-se para criar um código no qual o regulamento sobre um assunto específico pudesse ser prontamente localizado. Colecionando todas as legislações bíblicas, talmúdicas e pós-talmúdicas, e destacando as opiniões mais abalizadas, ele incluiu toda a gama da Lei Judaica – mesmo aquelas leis que, segundo a tradição, não serão novamente praticadas até a Era de Mashiach (tais como as referentes aos sacrifícios no Templo). Para facilitar o acesso e a leitura, Maimônides escolheu apresentar as leis em seu código sem referência a suas fontes ou explicações de seu arrazoado (ambos foram subseqüentemente fornecidos por outros comentaristas). Sua intenção, em resumo, foi fornecer um código de leis que, em suas palavras, permitiriam que "nenhum homem teria de recorrer a qualquer outro livro sobre qualquer assunto da Lei Judaica, mas que o compêndio conteria toda a Lei Oral". Portanto, ele decidiu chamá-la Mishnê Torá (Segundo à Torá). E de fato, a partir de sua publicação, a reação à obra foi extraordinária. Estudada e consultada por judeus de todas as partes, a Mishnê Torá logo foi aclamada como a obra mais notável da erudição judaica desde o Talmud. Escrita em linguagem clara e cuidadosamente elaborada, tornou-se um modelo de composição sucinta e concentrada. (Comentaristas posteriores se referem à redação das obras de Maimônides como "linguagem de ouro").

Única em seu escopo, sem par em sua composição, a obra tem se mantido como o alicerce para todas as codificações da Lei Judaica desde então.

Guia para os Perplexos

No seu livro "Guia dos Perplexos", o Rambam mostra o caminho certo para o indivíduo.

Apesar de sempre preocupar-se com o bem-estar da comunidade e do povo em geral, ele sabia muito bem que às vezes o indivíduo não se adapta às regras gerais. Por isso escreveu o livro como uma orientação para a vida.

Durante a vida de Maimônides, muitos judeus observantes tinham sentido atração pelas obras dos antigos filósofos gregos, uma influência que era popular dentre os eruditos árabes da época.

Enfrentando conflitos entre as concepções aristotélica e judaica do mundo, estes judeus se tornaram perturbados e abalados em sua fé. Preocupado com essa confusão e temendo suas potenciais conseqüências, Maimônides compôs seu Guia para elucidar sistematicamente a filosofia básica e os dogmas religiosos do Judaísmo. O Guia não foi direcionado ao judeu descrente, mas explicitamente projetado para judeus eruditos e devotos. Como escreve Maimônides em sua introdução: "O objetivo desse tratado é esclarecer um homem religioso que foi treinado a acreditar na verdade de nossa sagrada Lei, que conscientemente cumpre seus deveres morais e religiosos, e ao mesmo tempo tem obtido sucesso em seus estudos filosóficos."

O Guia é dividido em três partes. A primeira é dedicada a discussões dos equívocos que podem surgir diretamente do texto da Torá – aparentes contradições escriturais, antropomorfismos de Deus, e similares. O segundo ataca problemas que brotam das incompatibilidades entre as abordagens "científica" (Aristotélica) e bíblica a Deus e ao mundo, e analisa extensivamente a legitimidade de aplicar o raciocínio aristotélico a questões de religião e da Torá. A seção final do Guia está voltada a temas mais gerais, fundamentalmente religiosos: a natureza do bem e do mal, o propósito do mundo, o significado por trás dos Mandamentos, o caráter da pura devoção.

Infelizmente, a linguagem filosófica na qual o Guia é composto tem levado a um mau entendimento das intenções de Maimônides. Perfeitamente cônscio dessas dificuldades em potencial, Maimônides deixa claro em sua introdução que o Guia deve ser lido com muito cuidado:"Aquilo que escrevi nesta obra não foi a sugestão do momento; é o resultado de profundo estudo e grande aplicação… Não o leia superficialmente, para não me ofender, e não extraia benefício para si mesmo. Você deve estudar extensivamente e ler sempre."

Alguns dos mais notáveis comentaristas rabínicos clássicos na verdade indicaram que muitos dos conceitos que Maimônides discute estão baseados em profundas opiniões do Zôhar, o texto básico do misticismo judaico. Deve-se enfatizar que embora muito filosófico e científico, o Guia permanece profundamente enraizado na Torá. Maimônides via a ciência e a filosofia como auxílios ao entendimento das Leis de Deus, em vez de um fim em si mesmas.

Apesar desses mal entendidos que se seguiram à publicação e ao fato de ter uma platéia específica, a influência do Guia foi profunda, tanto no círculo judaico quanto no não-judaico.

Indiscutivelmente o mais comentado dos tratados filosóficos de todos os tempos, possui mais de trinta comentários em hebraico cujos autores são conhecidos e grande número de outros comentários escrito por autores cujos nomes se perdeu.

Traduzido em praticamente todos os idiomas europeus, é citado extensivamente nas obras de Aquino, Bacon e outros. O mais significativo, porém, é que o Guia foi responsável por abrir uma nova era de investigação judaica em questões de filosofia, servindo tanto como pedra fundamental quanto como um catalisador para obras subseqüentes em seu gênero.

Os Treze Princípios de Fé

O Rambam faz parte da vida dos sábios e dos eruditos, quando todos os dias se elevam ao mergulhar na profundidade de seus livros. Mesmo as pessoas menos instruídas são influenciadas pelo Rambam, através dos 13 Princípios da Fé, formulados por ele.

Esses princípios da fé judaica versam sobre as virtudes, a fidelidade e a fé na eternidade da Torá e na breve vinda de Mashiach – todos estes valores tiveram e têm um papel importante na complementação espiritual de nosso povo. Esta prece representa a grandeza da obra do Rambam, pois ele conseguiu penetrar no intelecto e no coração de todos os judeus; do mais erudito ao mais afastado dos conhecimentos da Torá.Cada um dos 613 preceitos da Torá serve para:

Transmitir atitudes apropriadas
Remover concepções errôneas
Estabelecer legislação
Eliminar a perversidade e a injustiça
Imbuir no indivíduo virtudes exemplares
Deter a pessoa perante as más inclinações.


Os Treze Princípios da Fé – segundo Maimônides "Ani Maamin" – Creio plenamente:

Creio plenamente que Deus é o Criador e guia de todos os seres, ou seja, que só Ele fez, faz e fará tudo.
Creio plenamente que o Criador é um e único; que não existe unidade de qualquer forma igual à d’Ele; e que somente Ele é nosso D’us, foi e será.
Creio plenamente que o Criador é incorpóreo e que está isento de qualquer propriedade antropomórfica.
Creio plenamente que o Criador foi o primeiro (nada existiu antes d’Ele) e que será o último (nada existirá depois d’Ele).
Creio plenamente que o Criador é o único a quem é apropriado rezar, e que é proibido dirigir preces a qualquer outra entidade.
Creio plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
Creio plenamente que a profecia de Moshê Rabeinu é verídica, e que ele foi o pai dos profetas, tanto dos que o precederam como dos que o sucederam.
Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu.
Creio plenamente que esta Torá não será modificada e nem haverá outra ortorgada pelo Criador.
Creio plenamente que o Criador conhece todos os atos e pensamentos dos seres humanos, eis que está escrito: "Ele forma os corações de todos e percebe todas as suas ações" (Tehilim 33:15).
Creio plenamente que o Criador recompensa aqueles que cumprem os Seus mandamentos, e pune os que transgridem Suas leis.
Creio plenamente na vinda do Mashiach e, embora ele possa demorar, aguardo todos os dias a sua chegada.
Creio plenamente que haverá a ressurreição dos mortos quando for a vontade do Criador.

Maimônides na Medicina

O Rambam extraiu seu conhecimento medicinal do próprio Talmud. Os nossos sábios, há milhares de anos, já conheciam regras medicinais que ainda agora estão sendo descobertas.

A própria Torá nos adverte para cuidarmos da saúde de nosso corpo. É proibido aceitar a falsa linha de que, como Deus deu a doença, somente por Ele deve ser curada. Ao contrário, no Judaísmo é uma mitsvá curar os doentes e vencer as moléstias; a salvação de uma vida é superior a tudo. Maimônides escreveu: "É proibido uma pessoa se expor ao perigo de modo proposital."A Halachá tem uma grande influência sobre os conceitos do Rambam na Medicina. Sua famosa oração do médico é plena de fé e convicção da influência Divina sobre a Medicina. Ele acreditava plenamente nesta influência sobre o corpo, onde alma e o corpo são indivisíveis.

Rambam sempre confiou muito no Médico Celestial, que acompanha o médico terrestre. O ponto principal de Rambam é que somente por meios físicos não se pode curar um doente. O corpo anda de mãos dadas com a alma e são necessárias forças espirituais para curar as doenças. As boas virtudes foram colocadas por Rambam no mesmo nível dos remédios, pois um completa o outro. Segundo a linha do Rambam, a pessoa que mortifica propositadamente seu corpo é um pecador, pois está fazendo a alma sofrer. Ele declarava que a força do corpo está ligada ao espírito e que todas as doenças se refletem no espírito da pessoa. Na sua linguagem: "Para os irados, sua vida não é vida." Suas opiniões são válidas ainda atualmente, apesar de terem já se passado centenas de anos.

Podemos conhecer um pouco de Rambam como médico através da leitura do texto conforme aparece em uma de suas cartas: "Moro em Fostat e o Sultão reside no Cairo; estes dois locais estão a cerca de 2km de distância. Minhas obrigações para com o Sultão são muito pesadas. Tenho de visitá-lo todos os dias, de manhã cedo; e quando ele ou algum dos filhos, ou as pessoas do harém, estão indispostos, não ouso sair do Cairo, porque devo permanecer a maior parte do dia no palácio. Também acontece freqüentemente que um ou dois dos oficiais da corte adoecem, e devo cuidar de sua cura. Portanto, em geral, vou ao Cairo bem cedo pela manhã e se nada de extraordinário acontece, só volto a Fostat no fim da tarde. A esta altura, estou quase morrendo de fome. Encontro as antecâmaras repletas de gente, judeus e gentios, nobres e pessoas comuns, juizes e meirinhos, amigos e inimigos – uma multidão variada, que espera pela minha volta. Desmonto de meu animal, lavo as mãos, vou até meus pacientes, peço a eles que esperem enquanto como alguma coisa, a única refeição que faço em vinte e quatro horas. Então atendo meus pacientes, prescrevo receitas e orientações para suas diversas doenças. Os pacientes entram e saem até o anoitecer, e às vezes até, eu lhe asseguro solenemente, oito horas da noite. Converso e receito deitado, de pura fadiga, e quando a noite chega estou tão exausto que mal posso falar."

"Em conseqüência disso, nenhum israelita pode ter qualquer entrevista privada comigo, exceto no Shabat. Naquele dia toda a congregação, ou pelo menos a maior parte, procura-me depois do serviço matinal, quando então os instruo sobre seus procedimentos durante a semana inteira; estudamos juntos um pouco até meio-dia, quando vão embora. Alguns deles voltam, e lêem comigo depois do serviço vespertino até as Preces Noturnas. Assim passo o dia. Aqui relatei a você apenas uma parte daquilo que verá quando me visitar."Oração do médico

Autoria atribuída a Maimônides:
"Ó Deus, Tu formaste o corpo do homem com infinita bondade;
Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém se a fraqueza ou paixão violenta perturba esta harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo retorna ao pó de onde veio.
Tu enviaste ao homem Teus mensageiros, as doenças que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para superá-las.
A Eterna Providência designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas.

Que o amor à minha arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem a sede pela glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da verdade e da filantropia, ele poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer meu elevado objetivo de fazer o bem a teus filhos.
Concede-me força de coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre.
Se médicos mais instruídos que eu desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros vêem.
Que eu seja moderado em tudo, exceto no conhecimento desta ciência; quanto a isso, que eu seja insaciável; concede-me a força e a oportunidade de sempre corrigir o que já adquiri, sempre para ampliar seu domínio; pois o conhecimento é ilimitado e o espírito do homem também pode se ampliar infinitamente, todos os dias, para enriquecer-se com novas aquisições.
Hoje ele pode descobrir seus erros de ontem, e amanhã pode obter nova luz sobre aquilo que pensa hoje sobre si mesmo.
Deus, Tu me designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura: aqui estou, pronto para minha vocação."

Ensinamentos

Filosofia
Os filósofos opinam que Maimônides influenciou muito o pensamento da Filosofia e da Medicina. Graças a ele, a teoria de Aristóteles foi aceita na Filosofia em geral na Idade Média. O Rambam criou uma síntese entre a Filosofia e a Medicina, aprofundando-se em ambas, analisando-as de maneira aguda e crítica. Os seus ensinamentos sobre estas matérias vieram a ser conhecidos mesmo nos ambientes não judaicos. Suas obras foram traduzidas do original árabe para o ladino e outros idiomas daquela época. Em muitas universidades estas obras ainda são estudadas.

Ciência
No mundo científico, o Rambam foi intitulado de "O Aristocrata Espiritual", mas para nós, ele tem um título maior e mais elevado, "O Mestre de Nosso Povo". Seus ensinamentos destinam-se não somente aos gigantes em erudição, mas também às pessoas simples, pois a estas ele doou inteiramente sua alma. Estava sempre atento aos interesses das mesmas, em todos os países onde viveu.

O Talmud
Em seu outro trabalho monumental, o Rambam declara que para entender as leis do Talmud são necessárias três coisas: um intelecto amplo, paz de espírito e muito tempo. Ele viu que o Talmud, a principal obra orientadora do povo judeu, tinha ficado além do alcance da maioria do povo. Isto se deveu a abordagem de temas complexos ali expostos, aliado às dificuldades e sofrimentos dos judeus que não possuiam o tempo e a calma para absorver seu vasto e profundo conteúdo. O Rambam sentiu também que os talmudistas estavam diminuindo em número e assim, havia o grave perigo de o povo esquecer a Torá, sem a qual a vida de um judeu não tem sentido. Dedicou então todos seu profundo conhecimento para desvendar os segredos da Torá tornando-os acessíveis e de fácil compreensão a todos, escrevendo grande parte de suas obras em outros idiomas, especialmente o árabe, que na época era a língua corrente no sul da Europa, norte da África e em todo o Oriente. Sua primeira obra, a Explicação da Mishná, também é chamada de "Livro da Iluminação", pois ilumina os olhos dos leigos.

Antes de chegar aos vinte e três anos, Maimônides tinha completado um tratado sobre o Calendário Judaico, uma dissertação sobre lógica, e um compêndio legal do Talmud de Jerusalém.

As mitsvot
Maimônides não exige que o indivíduo se eleve acima da capacidade do seu intelecto, mas quer que desenvolva os dons naturais para usá-los da melhor maneira possível. Nos orienta a usar "um caminho de ouro", as mitsvot, boas ações, que nos abre os olhos para encontrar o verdadeiro caminho até Deus e Sua Torá.

A finalidade do Rambam era elevar o povo mesmo nos momentos mais difíceis, abrir amplamente as portas a todos os judeus para que pudessem estudar e compreender o Talmud, tanto os adultos como as crianças. É interessante notar como ele se expressa ao falar das leis do shofar: "Por causa da elasticidade do exílio e dos fortes sofrimentos, caiu a lei de como deve ser o toque do shofar, Deve ele representar um gemido profundo ou um suspiro normal?"

Nessa observação o Rambam demonstra sua atitude para com a Halachá, e descreve aqui algo muito profundo. O exílio está repleto dos gemidos judaicos; nós passamos por dois tipos de exílio: o espiritual e o físico. No espiritual, sofre a alma judaica, e no exílio físico é o corpo judaico que sofre. O sofrimento espiritual vem pela profanação do Shabat, pela falta de Cashrut e pelos decretos contra a nossa religião que os nosso inimigos impõem. O sofrimento físico são as torturas e perseguições. O shofar deve transmitir para Deus os dois tipos de gemidos, o físico e o espiritual.

Astrologia
Maimônides estudou profundamente o assunto antes de emitir sua opinião onde foi um dos poucos que ousaram levantar sua voz contra a crença quase universalmente aceita do poder dos corpos celestes de influenciar o destino humano. Ele denunciava a astrologia como uma superstição próxima à idolatria, rejeitando-a categoricamente e a outras práticas supersticiosas.

Na sua famosa carta à comunidade do Iêmen, Maimônides declara: "Eu noto que vocês estão inclinados a acreditarem na astrologia e na influência das conjunções passadas e futuras dos planetas sobre os assuntos humanos. Deveriam tirar tais noções de seu pensamento…"

Maimônides investiu fortemente contra a astrologia, denunciando-a como um engodo que é subversivo contra a fé e os ensinamentos do Judaísmo. Ele escreve na Ética dos Pais: "Aprofundei-me neste assunto para que você não acredite nas idéias absurdas dos astrólogos, que asseguram falsamente que a posição dos astros no momento do nascimento da pessoa determina se ela será virtuosa ou perversa."

Amuletos
Desde os tempos mais antigos, as pessoas têm tentado afastar desgraças, doenças ou "maus espíritos" usando sobre o próprio corpo pedaços de papel, pergaminhos ou discos de metal, gravados com várias fórmulas que deveriam proteger ou curar o usuário. Tais artefatos são conhecidos como amuletos. Maimônides, contrário à considerável parte da opinião rabínica na Idade Média, opõe-se rigorosamente a tais práticas. Ele argumenta contra a tolice dos escribas dos amuletos e contra o uso de objetos religiosos (tais como o Rolo da Torá) para a cura de doenças.

Humanismo
Em seus ensinamentos, o Rambam não deixa de lado nenhum detalhe da vida humana. Fala da vida particular, da vida familiar, do relacionamento entre as pessoas e destas com a coletividade.

Comenta os deveres que nós, judeus, temos para com os países onde vivemos e as responsabilidades do governo com os cidadãos.

Mashiach (Messias)
Ele também escreveu um código especial para o reino de Israel, para ser usado quando chegasse a época da Redenção. Este código regula toda a vida do país ligando o reino inferior ao Reino Celestial (superior) – uma visão da Era Messiânica, quando todos se comportarão com uma ética mais elevada aplicada a vida diária. Capítulo 11… e todo aquele que não acredita no Mashiach, ou que não aguarda sua vinda – está não apenas contestando os outros profetas, mas a própria Torá e Moshê Rabênu. (Lei 1)

Maimônides via a ciência e a filosofia como auxílios ao entendimento das Leis de Deus, e não um fim em si mesmas.

… ao levantar-se um rei da Casa de David estudioso da Torá e dedicado às mitsvot (preceitos) de acordo com a Torá Escrita e Oral, como seu pai David – e ele levará todo o povo de Israel a seguir a Torá; ele a fortalecerá e lutará pelas causas de Deus – certamente deve tratar-se de Mashiach. Se for bem-sucedido, reconstruirá o Santuário em seu lugar e reagrupará os dispersos de Israel (na terra de Israel) – com toda a certeza será o Mashiach. Ele retificará o mundo no sentido de todos servirem juntos a Deus. (Lei 4)

Capítulo 12 Não pense que na Era Messiânica se anulará algo dos costumes e da natureza do mundo, ou que haverá qualquer novidade na obra da Criação. Na realidade, o mundo seguirá o seu caminho… o que ocorrerá é que Israel será estabelecido para sempre… todos os povos retornarão à verdadeira fé; não furtarão, nem prejudicarão… (Lei 1)

Disseram nossos Sábios: "Não há diferença entre este mundo (esta época) e a Era Messiânica, exceto que não seremos mais subjugados por outros povos". O que transparece literalmente das palavras dos Profetas é que no início da Era messiânica haverá a guerra de "Gog e Magog"; e antes dela se levantará um profeta que encaminhará Israel e preparará o seu coração…A pessoa só saberá como serão todos estes acontecimentos quando ocorrerem, pois são fatos ocultos nos livros dos profetas… (Lei 2)


http://www.chabad.org.br/BIBLIOTECA/artigos/rambam/home.html

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